quinta-feira, 17 de março de 2011

Mais suave das leis (Du sanftestes Gesetz)

"Amo-te, mais suave das leis,
em que, lutando com ela, amadurecemos;
grande saudade, que não dominamos,
selva, de que nunca saímos,
cantiga, que em cada silêncio cantamos,
rede obscura,

em que os sentimentos fugidios se prendem.

Tão infinitamente grande foi o teu prelúdio
naquele dia em que nos começaste, -
e estamos tão maduros nos teus sóis,
tão expandidos e tão semeados em profundidade,
que, em homens, anjos e madonas,
agora podes te consumar mansamente.

Repousa tua mão na encosta dos céus
e suporta em silêncio o que na sombra te fazemos."

26.09.1899, Berlin-Schmargendorf  
Rainer Maria Rilke


(Du sanftestes Gesetz por Xavier Naidoo - Überfließende Himmel, 3° disco do Rilke Projekt, que reuniu vários artistas)

"Ich liebe dich, du sanftestes Gesetz,
an dem wir reiften, da wir mit ihm rangen;
du großes Heimweh, das wir nicht bezwangen,
du Wald, aus dem wir nie hinausgegangen,
du Lied, das wir mit jedem Schweigen sangen,
du dunkles Netz,

darin sich flüchtend die Gefühle fangen.

Du hast dich so unendlich groß begonnen
an jenem Tage, da du uns begannst, -
und wir sind so gereift in deinen Sonnen,
so breit geworden und so tief gepflanzt,
daß du in Menschen, Engeln und Madonnen
dich ruhend jetzt vollenden kannst.

Laß deine Hand am Hang der Himmel ruhn
und dulde stumm, was wir dir dunkel tun."

26.09.1899, Berlin-Schmargendorf
Rainer Maria Rilke


Extraído de: Das Stundenbuch (O Livro das Horas)

A Linguagem do Indizível: Juntamente com George e Hofmannsthal, Rilke (1875-1926) foi o criador de uma lírica standard (isto é, burguesa) da passagem de século na literatura alemã. "O Livro das Horas" (Das Stundenbuch), cuja monumentalidade se mostra na uniformidade de versos rimados, publicado em 1905, expressa a visão de mundo monista do poeta de uma maneira pouco usual em seu conteúdo.
Sua obra encontra ressonância no Brasil muito antes de cair em domínio público (1996), teve consequência mais remota nos poemas escritos por Vinicius de Moraes na década de 30. Além disso, passou por algumas gerações que o traduziram, como Cecília Meireles (Traduziu A canção de amor e de morte do porta-estandarte Cristóvão Rilke), Lya Luft (Os Cadernos de Malte Laurids Brigge), José Paulo Paes (Traduziu coletânea intitulada Poemas). Há, ainda, traduções de Paulo Rónai, Geir Campos, Dora Ferreira da Silva, Décio Pignatari, Augusto de Campos e de Manuel Bandeira. 
(em: Panorama da Literatura Alemã. Cadernos. Revista Entrelivros. n. 8, p. 60-62)