quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Diante da Lei (Vor dem Gesetz)

Diante da Lei havia um guardião. A esse guardião dirigiu-se um homem do interior e lhe pediu que o deixasse entrar na Lei. O guardião disse, entretanto, que não podia lhe conceder a entrada naquela ocasião. O homem pensou e depois perguntou se ele então poderia entrar mais tarde. "É possível," disse o guardião, "mas não agora." Dado que o portão para a Lei fica aberto como de hábito e o guardião vigiava a sua entrada, o homem abaixou-se para ver o interior. Quando o guardião percebeu, riu e lhe disse: "Se tanto te seduz, tenta entrar, malgrado a minha proibição. Porém, presta bem atenção: eu sou poderoso. E sou apenas o mais reles dos guardiães. Em cada salão há um guardião mais poderoso que o outro. Eu sequer suporto o olhar do terceiro." Não contava com tais dificuldades o homem do interior; a Lei deveria ser acessível para todos e a toda hora, pensou ele, mas ao observar com rigor o guardião no seu casaco de pele, o seu nariz grande e agudo, a barba escura, tênue, comprida e desarrumada, achou melhor esperar pela autorização. O guardião deu-lhe um banco e o deixou sentar-se perto. Lá permaneceu dias e anos. Tentou entrar várias vezes, cansando o guardião com seus pedidos. O guardião lhe fazia pequenos interrogatórios com certa frequência, indagava-lhe sobre sua terra natal e sobre muitas outras coisas, eram perguntas despropositadas, como se fosse o trato de bons cavalheiros e enfim lhe dizia mais uma vez que ainda não poderia deixá-lo entrar. O homem, que com muito de valor se equipou para sua viagem, serviu-se de tudo para subornar o guardião. Ele tudo aceitava, mas lhe dizia: "Apenas aceito para não achares que foste negligenciado." Durante os vários anos, o homem observou o guardião quase incessantemente. Esqueceu-se dos demais guardiães, como se aquele fosse o único obstáculo para entrar na Lei. Nos primeiros anos, ele maldizia o lamentável acaso com ímpeto e em voz alta, mais tarde, à medida em que envelhecia, resmungava de si para si. Tornou-se pueril e, como já tinha passado anos estudando o guardião e reconhecia até as pulgas no colarinho de seu casaco, apelou a elas para que lhe ajudassem a persuadir o guardião. Sua vista por fim se esvaía e ele não sabia ao certo se escurecia à sua volta ou se eram os olhos que o iludiam. Pôde, todavia, bem reconhecer um clarão no escuro, que inextinguível irrompia portão afora. Ele já não vive mais. Antes da sua morte, reuniram-se na sua mente todas as experiências do período para uma pergunta, que até então ele não havia feito ao guardião. Fez-lhe sinal, pois não conseguia mais erguer o corpo enrijecido. O guardião teve que se inclinar em sua direção, já que a diferença de estatura tinha se acentuado para dissabor do homem. "O que ainda queres saber?" perguntou o guardião, "tu és insaciável." "Todos aspiram à Lei," disse o homem, "como pode, em tantos anos, ninguém além de mim ter buscado entrar nela?" O guardião reconheceu que o homem já estava no fim e, para alcançar ainda a audição extenuante, vociferou: "Aqui ninguém pôde entrar antes porque esta entrada era destinada somente a ti. Agora já posso ir-me e trancá-la."

Franz Kafka, 1914. 


Vor dem Gesetz steht ein Türhüter. Zu diesem Türhüter kommt ein Mann vom Lande und bittet um Eintritt in das Gesetz. Aber der Türhüter sagt, daß er ihm jetzt den Eintritt nicht gewähren könne. Der Mann überlegt und fragt dann, ob er also später werde eintreten dürfen. "Es ist möglich," sagt der Türhüter, "jetzt aber nicht." Da das Tor zum Gesetz offensteht wie immer und der Türhüter beiseite tritt, bückt sich der Mann, um durch das Tor in das Innere zu sehn. Als der Türhüter das merkt, lacht er und sagt: "Wenn es dich so lockt, versuche es doch, trotz meines Verbotes hineinzugehn. Merke aber: Ich bin mächtig. Und ich bin nur der unterste Türhüter. Von Saal zu Saal stehn aber Türhüter, einer mächtiger als der andere. Schon den Anblick des dritten kann nicht einmal ich mehr ertragen." Solche Schwierigkeiten hat der Mann vom Lande nicht erwartet; das Gesetz soll doch jedem und immer zugänglich sein, denkt er, aber als er jetzt den Türhüter in seinem Pelzmantel genauer ansieht, seine große Spitznase, den langen, dünnen, schwarzen tatarischen Bart, entschließt er sich, doch lieber zu warten, bis er die Erlaubnis zum Eintritt bekommt. Der Türhüter gibt ihm einen Schemel und läßt ihn seitwärts von der Tür sich niedersetzen. Dort sitzt er Tage und Jahre. Er macht viele Versuche, eingelassen zu werden, und ermüdet den Türhüter durch seine Bitten. Der Türhüter stellt öfters kleine Verhöre mit ihm an, fragt ihn über seine Heimat aus und nach vielem andern, es sind aber teilnahmslose Fragen, wie sie große Herren stellen, und zum Schlusse sagt er ihm immer wieder, daß er ihn noch nicht einlassen könne. Der Mann, der sich für seine Reise mit vielem ausgerüstet hat, verwendet alles, und sei es noch so wertvoll, um den Türhüter zu bestechen. Dieser nimmt zwar alles an, aber sagt dabei: "Ich nehme es nur an, damit du nicht glaubst, etwas versäumt zu haben." Während der vielen Jahre beobachtet der Mann den Türhüter fast ununterbrochen. Er vergißt die andern Türhüter und dieser erste scheint ihm das einzige Hindernis für den Eintritt in das Gesetz. Er verflucht den unglücklichen Zufall, in den ersten Jahren rücksichtslos und laut, später, als er alt wird, brummt er nur noch vor sich hin. Er wird kindisch, und, da er in dem jahrelangen Studium des Türhüters auch die Flöhe in seinem Pelzkragen erkannt hat, bittet er auch die Flöhe, ihm zu helfen und den Türhüter umzustimmen. Schließlich wird sein Augenlicht schwach, und er weiß nicht, ob es um ihn wirklich dunkler wird, oder ob ihn nur seine Augen täuschen. Wohl aber erkennt er jetzt im Dunkel einen Glanz, der unverlöschlich aus der Türe des Gesetzes bricht. Nun lebt er nicht mehr lange. Vor seinem Tode sammeln sich in seinem Kopfe alle Erfahrungen der ganzen Zeit zu einer Frage, die er bisher an den Türhüter noch nicht gestellt hat. Er winkt ihm zu, da er seinen erstarrenden Körper nicht mehr aufrichten kann. Der Türhüter muß sich tief zu ihm hinunterneigen, denn der Größenunterschied hat sich sehr zu ungunsten des Mannes verändert. "Was willst du denn jetzt noch wissen?" fragt der Türhüter, "du bist unersättlich." "Alle streben doch nach dem Gesetz," sagt der Mann, "wieso kommt es, daß in den vielen Jahren niemand außer mir Einlaß verlangt hat?" Der Türhüter erkennt, daß der Mann schon an seinem Ende ist, und, um sein vergehendes Gehör noch zu erreichen, brüllt er ihn an: "Hier konnte niemand sonst Einlaß erhalten, denn dieser Eingang war nur für dich bestimmt. Ich gehe jetzt und schließe ihn."

Franz Kafka, 1914.


De: Erzählungen (Contos). Frankfurt am Main: Fischer Verlag: 1975, p.120s.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Noite de Luar (Mondnacht)

Foi como se o céu
serenamente beijasse a terra,
E que ela, no resplendor de flores,
Com ele tivesse de sonhar.

O ar passou pelos campos,
Leve se agitavam as espigas,
Manso sussurravam os bosques,
Tão estrelada era a noite.

E minh'alma espraiou
suas vastas asas,
Voou pelas terras plácidas,
Como se voasse p'ra casa.

Joseph von Eichendorff, 1837.


Es war, als hätt der Himmel
Die Erde still geküsst,
Dass sie im Blütenschimmer
Von ihm nun träumen müsst.

Die Luft ging durch die Felder,
Die Ähren wogten sacht,
Es rauschten leis die Wälder,
So sternklar war die Nacht.

Und meine Seele spannte
Weit ihre Flügel aus,
Flog durch die stillen Lande,
als flöge sie nach Haus.

Joseph von Eichendorff, 1837.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Perto da Amada (Nähe des Geliebten)

Penso em ti, quando o brilho do sol se me
Irradia no mar;
Penso em ti, quando o reflexo da lua se
Desenha na fonte.

Vejo-te, quando no caminho distante
A poeira se eleva;
Na noite profunda, quando na ponte estreita
O viajante estremece.

Ouço-te, quando com surdo marulho
A onda se alça.
Ao bosque sereno costumo ir para escutar
Quando tudo silencia.

Estou contigo, ainda que estejas tão longe,
Estás perto de mim!
O sol imerge, logo hão-de brilhar-me estrelas.
Ah, se estivesses aqui!

Johann Wolfgang von Goethe, 1795.
 



Ich denke Dein, wenn mir der Sonne Schimmer
Vom Meere strahlt;
Ich denke dein, wenn sich des Mondes Flimmer
In Quellen malt.

Ich sehe dich, wenn auf dem fernen Wege
Der Staub sich hebt;
In tiefer Nacht, wenn auf dem schmalen Stege
Der Wandrer bebt.

Ich höre dich, wenn dort mit dumpfem Rauschen
Die Welle steigt.
Im stillen Haine geh ich oft zu lauschen,
Wenn alles schweigt.

Ich bin bei dir, du seist auch noch so ferne,
Du bist mir nah!
Die Sonne sinkt, bald leuchten mir die Sterne.
O wärst du da!

Johann Wolfgang von Goethe, 1795.
Poema de 4 estrofes que mais tarde recebeu a melodia de Schubert: D. 162, Op. 5, N. 2.