terça-feira, 13 de setembro de 2011

Temos tempo (Wir haben Zeit) - Fön

Nascer do Sol segunda-feira no Monte Evereste, quarta-feira no Amazonas e sexta já no Ártico. Nós éramos o jetset, o viajante dos extremos, balançados sobre as latitudes; os meridianos há muito nos abandonaram.

Estamos caminhando sobre os Alpes, plantando bananeira nos Andes e de pés atados através do Canal da Mancha; indo e vindo e indo e vindo e indo e vindo e indo e vindo. Até que pensamos que cresceriam membranas entre os nossos dedos, e então saímos ligeiros das ondas, rapidamente nos secamos e já partimos adiante, de patins através do deserto de Gobi, de cadeiras-de-rodas pela Sibéria, num bote inflável subindo as Cataratas do Niágara e sobre pernas-de-pau Grand Canyon abaixo. De olhos vendados, vestidos apenas com um chapéu de palha – “senão não vai quicar direito”, como você sempre disse.

E passamos todo aquele tempo contando piadas sujas que todos nós já conhecíamos, e rindo delas mesmo assim, o que mais deveríamos fazer? Lá, tínhamos apenas a nós mesmos e a plenitude.

Hemisfericamente, foram-nos tundra e taiga, Terras Altas e Baixas, todos os quatro pontos cardeais, cinco continentes, seis mil e sete oceanos de uma só vez.

E nós nunca colocamos isso em questão, esse era o nosso plano de vida.

„Hey! Diversão é o que fazemos dela!“, você sempre dizia e ria-se.

O mundo era pequeno demais para você. Você queria um Novo, um Maior.

E eu dizia “Vamos ver… talvez no Natal”.

E você ainda se lembra do pequeno atol do Pacífico, sobre o qual nos deixamos boiar? Sem nada mais além de um canivete e um bom livro? Você era o lobo da estepe e eu, o jogo das contas de vidro, e então trocamos depois de algumas semanas.

E você ainda se lembra de como utilizamos os nossos fios de cabelo para costurar uma rede para pescar? Horas a fio ficamos inertes nas águas rasas do Pacífico e estávamos tão felizes. Tão felizes que nem pescamos e apenas pudemos envergar uma espinha de peixe. Nós éramos o peixe, éramos a água; éramos a parte, e o todo.

E você ainda se lembra do gosto de mão de chimpanzé? E ainda se lembra do deslizar engraçado das minhocas, e de como a casca dos escorpiões estala entre os nossos dentes?

Você ainda se lembra da Zâmbia? Ainda se lembra do Zimbábue, da Tanzânia, do Quênia, de Moçambique, dos safáris, dos imensos rebanhos de zebras? Ainda se lembra da família de leões, da qual nós nos tornamos amigos, e junto com a qual sentávamos todas as noites sob a sua árvore da savana para discutir sobre política? Ainda se lembra das nossas lágrimas à hora da partida, do nosso “sim claro, voltaremos para lhes visitar em breve”. Claro que nunca o fizemos. Tivemos que seguir adiante, tínhamos ainda tanto pela frente, como você mesmo sabe. Você bem sabe, você bem sabe. Mergulho nas águas geladas na Groelândia e então deitarmo-nos nus sobre peles frescas de urso polar e olhar para as estrelas, até ficarmos tontos diante do Infinito, do Frio, da Natureza e da Aventura. Nós sabíamos que aquele era o tempo certo e o lugar exato para nossa pele de couro verdadeiro, nossos pensamentos tão ridiculamente corretos, tão extraordinariamente consistentes com tudo.

E nós nunca colocamos isso em questão, esse era o nosso plano de vida.. “Liberdade! Liberdade é a única coisa que conta!”, você sempre dizia, e ria. O mundo era pequeno demais para você. Você queria um Novo, um Maior.

E eu dizia  “Vamos ver… talvez no Natal”.

Esse Natal nunca aconteceu, como bem sabemos.

Em nenhum lugar havia o cansaço. Sim, ainda viajamos por mais alguns meses, por mais alguns anos. Mannheim, Würzburg, Augsburg, Bamberg, Passau, Wuppertal, Ibbenbühren, Gütersloh, Rheda-Wiedenbrück, esses lugares mágicos.

Os esparsamente abarrotados distritos da cidade e Volkshochschulen, os slideshows, as esposas de dentistas e os aposentados e os conselhos estudantis que sopram à distância.

“Sim Galápagos, lá também estivemos no ano passado, naquele hotel bem asseado, perto da praia” – e no começo, ainda berramos para eles “Hotel? Hotel?! Nós estávamos felizes quando tínhamos uma tenda, nós estávamos felizes quando, depois de algumas semanas, ainda podíamos reconhecer a cor do cabelo dos outros, porque, sob toda aquela sujeira, nada mais se enxergava”. Mas em algum momento não mais gritávamos e apenas anuíamos com a cabeça, e deixávamo-nos convidar pelos aposentados para o vinho tinto. E agora isso também já era passado; agora nós temos tempo; tempo oh yeah, nós o temos.

Tempo para ferver a sopa, tempo para capinar a erva daninha, tempo para palavras cruzadas, tempo para fumar o cachimbo, tempo para fazer iogurte caseiro, para rearranjar os livros, tempo para montar os álbuns de fotografia, tempo para si mesmo. Tempo para ovos no café-da-manhã, tempo para se exercitar, tempo para uma máquina fotográfica, tempo para os amigos, tempo para passar as camisas a ferro, para barbear-se com a pele molhada, tempo para brigar, para entediar-se, tempo para finalmente aprender a tocar um instrumento musical. Tempo para micro-ondas, tempo para a música refinada que realmente se deve ouvir, tempo para tirar o pó também daquela parte de cima das portas, tempo para as instalações do quarto, tempo para vaidade, tempo para dizer “mas já não é mesmo finalmente hora de se ter tempo de verdade de novo?”. Tempo para experimentar novas cores de cabelo, tempo para um intercâmbio intercultural, tempo para handball, para vinho tinto, para a dor nas costas, tempo para frivolidades, tempo para pesquisas genealógicas, para línguas estrangeiras. Tempo para as crianças. Tempo para as séries, tempo para listas de compras, tempo para budismo, para ir ao museu, tempo para compartilhar, para preocupar-se com o próximo, tempo para a poesia, tempo para exercitar a memória. Tempo para recordar o passado. Tempo para ir-se.

FÖN, Wir haben Zeit (álbum), 2004.

Tradução livre: Nathalie Gazzaneo*
*Colaboradora


Montag Sonnenaufgang auf dem Mount Everest, Mittwoch am Amazonas und Freitag schon in der Arktis. Wir waren das extremreisende Jetset, balancierten auf den Breitengraden, die Zeitzonen hatten uns längst aufgegeben. 

Wir sind zu Fuß über die Alpen, auf den Händen über die Anden und mit zusammengebundenen Füßen durch den Ärmelkanal hin und zurück und hin und zurück und hin und zurück und hin und zurück. Bis wir glaubten das uns Schwimmhäute wachsen würden, dann raus aus den Wellen, kurz abgetrocknet und schon ging es weiter mit Inline-Skates durch die Wüste Gobi im Rollstuhl durch Sibirien, im Schlauchboot die Niagarafälle rauf und auf Stelzen den Grand Canyon hinunter. Mit verbundenen Augen, nur mit einem Strohhut bekleidet – „sonst kickt es nicht richtig“ hast du immer gesagt.

Und wir haben uns dabei die ganze Zeit dreckige Witze erzählt, die wir alle schon kannten, aber gelacht haben wir trotzdem, was sollten wir auch tun? Wir hatten doch nur uns und das reichlich.

Hemisphärisch waren uns Tundra und Taiga, Highlands und Lowlands, alle vier Himmelsrichtungen, 5 Kontinente, 6 Tausender und 7 Weltmeere auf einmal.

Und wir haben das nie infrage gestellt, das war unser Lebensentwurf.

„Hey! Spaß ist was wir draus machen!“, hast du immer gesagt und gelacht. 

Die Welt war dir viel zu klein, du wolltest eine neue, eine größere.

Und ich hab gesagt: „Na mal sehen, vielleicht zu Weihnachten.“

Und weißt du noch das kleine Pazifik-Atoll auf dem wir uns aussetzen ließen? Mit nichts außer einem Taschenmesser und einem guten Buch? Du den Steppenwolf und ich das Glasperlenspiel und dann haben wir getauscht nach ein paar Wochen.

Und weißt du noch, wie wir unsere Haare zum Fischen zu einem Netz verknüpft haben? Stundenlang standen wir regungslos im seichten Pazifikwasser und waren so glücklich. So glücklich, dass wir keinem Fisch auch nur eine Gräte krümmen konnten. Wir waren der Fisch, wir waren das Wasser, wir waren der Teil und das Ganze.

Und weißt du noch, wie Schimpansenhand schmeckt? Weißt du noch wie lustig Regenwürmer die Kehle hinunterschlüpfen, wie Skorpionpanzer zwischen den Zähnen knacken?

Weißt du noch Sambia? Weißt du noch Simbabwe, Tansania, Kenia, Mosambik, die Safaris, die riesigen Zebraherden? Weißt du noch die Löwenfamilie, mit der wir uns anfreundeten und jeden Abend unter ihrem Savannenbaum saßen, um über Politik zu reden? Weißt du noch unsere Tränen beim Abschied, unser „Ja, klar kommen wir euch bald wieder besuchen“, natürlich haben wir das nie getan. Mussten doch weiter, hatten doch noch so viel vor, weißt du noch. Weißt du noch, weißt du noch, Eistauchen in Grönland und dann nackt auf frisch gehäuteten Eisbärfellen liegen und in die Sterne schauen, bis uns ganz schwindelig wurde vor Unendlichkeit, vor Kälte und Natur und Abenteuer. Wir wussten, dass das die richtige Zeit war und der richtige Ort um unsere Haut auf so richtig Leder, unsere Gedanken so lächerlich richtig, so ungemein im Einklang mit allem.

Und wir haben das nie infrage gestellt, das war unser Lebensentwurf.  „Freiheit, Freiheit ist das Einzige was zählt!“, hast du immer gesagt und gelacht.  Die Welt war dir viel zu klein, du wolltest eine neue, eine größere.

Und ich hab gesagt „Na mal sehen, vielleicht zu Weihnachten.“

Dieses Weihnachten hat es nie gegeben, das wissen wir beide.

Nirgends war die Müdigkeit, ja gereist das sind wir noch ein paar Monate, ein paar Jahre. Mannheim, Würzburg, Augsburg, Bamberg, Passau, Wuppertal, Ibbenbühren, Gütersloh, Rheda-Wiedenbrück, diese magischen Orte. 

Die spärlich gefüllten Stadteile und Volkshochschulen, die Diavorträge, die Zahnarztfrauen und Rentner und fernwehenden Studienräte.

„Ja Galapagos, da waren wir auch letztes Jahr, in diesem sauberen Hotel gleich beim Strand“- und am Anfang, da haben wir sie noch angebrüllt: „Hotel? Hotel?!“. Wir waren froh, wenn wir ein Zelt hatten, wir waren froh, wenn wir nach ein paar Wochen noch die Haarfarbe des anderen kannten, weil man unter all dem Dreck gar nichts mehr sah aber das haben wir irgendwann nicht mehr gebrüllt und nur noch genickt und uns von den Rentnern zum Rotwein einladen lassen. Und jetzt war auch das vorbei, jetzt haben wir Zeit, Zeit oh ja, die haben wir.

Zeit zum Suppen kochen, Zeit zum Unkraut jäten, Zeit für Kreuzworträtsel, Zeit zum Pfeife rauchen, Zeit zum Joghurt selber machen, zum Bücher umsortieren, Zeit zum Fotoalben anlegen, Zeit für sich selbst. Zeit für Frühstückseier, Zeit zum Fitnesstraining, Zeit für eine Videokamera, Zeit für Freundschaften, Zeit zum Hemden bügeln, zum Nassrasieren, Zeit zum Streiten, zum Langweilen, Zeit endlich mal ein Instrument zu lernen. Zeit für Mikrowellen, Zeit für anspruchsvolle Musik in die man sich erst so richtig reinhören muss, Zeit zum Staubwischen auch ganz oben auf den Türen, Zeit für Rauminstallation, Zeit für Eitelkeit, Zeit zu sagen: „Ist es nicht schön endlich mal wieder so richtig Zeit zu haben?“, Zeit mit der Haarfarbe zu experimentieren, Zeit für interkulturellen Austausch, Zeit für Handball, für Rotwein, für Rückenprobleme, Zeit für Frivolitäten, Zeit für Ahnenforschung, für Fremdsprachen, Zeit für die Kinder, Zeit für Serien, Zeit für Einkaufslisten, Zeit für Buddhismus, für Museumsbesuche, Zeit zum Teilen, zum Sorgen, Zeit für Lyrik, Zeit für Gedächtnistraining. Zeit zum Zurückruf. Zeit zu gehen.

FÖN, Wir haben Zeit (Album), 2004.