sábado, 21 de novembro de 2009

A si (An sich)

Sê todavia intrépido! Não te dês por vencido!
Não cedas à fortuna, sê superior à inveja.
Alegra-te contigo e não lamentes
Se contra ti conspiraram sorte, lugar e tempo.

O que te aflige e te deleita toma por eleito,
Aceita a tua fatalidade e não te arrependas de nada.
Faz o que deve ser feito antes que t'ordenem.
Aquilo pelo que ainda esperas sempre está para nascer*.

O que se lamenta, o que se louva? Cada um é sua
Própria desgraça e fortuna. Contempla todas as coisas:
Tudo isso está em ti, abandona tua ilusão fútil,

E antes de seguires adiante, volta para dentro de ti.
Quem é senhor de si e a si consegue dominar
A ele o vasto mundo e tudo o mais se sujeita.

Paul Fleming (1609-1640)



Sei dennoch unverzagt! Gib dennoch unverloren!
Weich keinem Glücke nicht, steh höher als der Neid,
Vergnüge dich an dir, und acht es für kein Leid,
Hat sich gleich wider dich Glück, Ort und Zeit verschworen.

Was dich betrübt und labt, halt alles für erkoren,
Nimm dein Verhängnis an, lass alles unbereut.
Tu, was getan sein muss, und eh man dirs gebeut.
Was du noch hoffen kannst das wird noch stets geboren.

Was klagt, was lobt man doch? Sein Unglück und sein Glücke
Ist sich ein jeder selbst. Schau alle Sachen an:
Dies alles ist in dir. Lass deinen eitlen Wahn,

Und eh du fürder gehst, so geh in dich zurücke.
Wer sein selbst Meister ist, und sich beherrschen kann,
Dem ist die weite Welt und alles untertan.

Paul Fleming (1609-1640)

Fleming representa com Gryphius e Christian von Hofmannswaldau líricos significativos do barroco alemão. Além da preocupação com a tradução em si, há outras considerações: a primeira, por se tratar de um soneto, é com a rima, que infelizmente não foi mantida. Observem no original os quartetos (versos terminados em en-eid-eid-en e en-eut-eut-en) e os tercetos (ambos em e-an-an); a segunda é com o vocabulário que, embora reproduza anseios e aconselhamentos atemporais, é explicitamente poético e marca uma época (século XVII).


  1. Título: "A si" ou "A si próprio" (An sich) evidencia o tom reflexivo do soneto ou o seu chamado à reflexão;
  2. Aquilo pelo que ainda esperas sempre está para nascer: Verso muito expressivo do segundo quarteto. Era possível traduzi-lo mais próximo do sentido em português como "aquilo pelo que ainda nutres esperança pode ocorrer a qualquer momento". Foi feita, no entanto, a opção pelo que aqui se encontra devido ao original (...das wird noch stets geboren), que menciona "nascer" (geboren werden), como uma gestação de período incerto que porta o novo. Por isso não há de se esperar apenas, é fazer o que deve ser feito, preparar-se para o parto.

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